e se

tenho a vida cheia de ses, depois de ter parado de procurar culpas de parte a parte, e só consigo pensar no postal que chegou do outro lado do atlântico, quando já não estava à espera, o postal que me fez parar várias vezes a meio dos três lances de escadas, que me fez rir ao primeiro parágrafo, uma gargalhada sincera que deve ter acordado metade da vizinhança, um postal onde me garantem, na qualidade de observador, que mudar de hemisfério não será a solução. tenho dúvidas quanto a isto, mas também tenho a vida cheia de ses e aquele rectângulo de cartão tem lá escritas as instruções, mesmo que para as ler seja preciso descolar o selo muito devagarinho para não esborratar a escrita. e do outro lado do atlântico houve alguém que ao fim de tão pouco tempo sabe o que preciso ouvir, porque me ouviu, e porque sabendo ouvir me percebe, sabe em que ponto estou e onde quero chegar. aquele postal traz as instruções e por isso hoje à noite sento-me no tapete do quarto dos miúdos e construo puzzles peça a peça com paciência de chinês.