21 de agosto de 2013

da brevidade dos dias

[foto DR via Honey Rider]

não me chegam os dias, e as noites, para não fazer nada. não fazer nada traduzido em horas de leitura, agualusa, Juan Pablo Villalobis, borges à espera de serem acabados ou começados, não fazer nada traduzido em tempo para ver o sol a pôr-se devagarinho ali para os lados de monsanto, enquanto bebo um chá gelado e acendo um cigarro. não chegam os dias, nem as noites, para os artigos de jornal e as revistas que acumulo para ler quando houver tempo, para os sites e os blogues, para as fotografias que quero estudar, para as séries e filmes que quero ver e rever. roubo tempo ao sono para os amigos, uma versão aprimorada de não fazer nada. não me lembro de um agosto assim e com noites quentes, que pedem pouco mais que a pele que transportamos na hora de adormecer, só consigo pensar nos verões da minha infância, no tempo em que o tempo chegava para tudo, até para nos fartarmos dele. três meses de férias bem contados, às vezes mais porque os professores não eram colocados e as escolas não abriam [acho que num ano cheguei a começar as aulas no final de outubro], uma colecção de 90 dias bem longos que enchíamos como podíamos, de brincadeiras, de praia, de banhos de mar, de livros, de jogos, a experimentar receitas de bolos que comíamos tão depressa como arrumávamos a cozinha para que os mais velhos não percebessem que tínhamos andado a inventar outra vez. três meses que davam para tanto e que mais tarde se encheram de amigos, que em agosto se encontravam vindos das mais diversas geografias, mesmo que nunca combinássemos nada, amigos com quem conspirávamos para fazermos todos os disparates que coubessem em 20 horas de dia e quatro horas de sono. dias transformados em noites que também pareciam não acabar, mesmo que a cerveja já pesasse, que os charros nos deixassem enjoados e a precisar de enfiar a cabeça dentro de água. mas os dias já não tem 20 horas de dia e quatro horas de sono, e os que têm passam tão depressa que às vezes nem damos por eles. dizem que é a idade, que acelera os relógios, que avariam fazendo uma hora parecer 15 minutos, duas horas uma, e que tornam um dia inteiro em qualquer coisa tão efémera que quando achamos que ainda agora começou já está é a acabar.

3 comentários:

Anónimo disse...

Chega-se a adulto, começa-se a trabalhar e parece que nos tornamos escravos do tempo, que este nos puxa por uma corda ao pescoço, daqui para ali... e o essencial a escapar-se quase sem darmos conta... ou a fazermos que não nos damos conta para que não nos doa tanto...

(desculpa o desabafo)

C.

Anónimo disse...

Gostei muito deste teu post e de ser transportado para o idílio da infância...

C.

Sal disse...

os desabafos são sem bem vindos, afinal é para isso que serve este anuário. e não podia estar mais de acordo :)