Não sabia que as lágrimas tinham cheiro, mas sabia a falta que lhe faria o toque, o riso, o sexo. Aprendeu o cheiro das lágrimas numa noite de Inverno, a mesma em que teve a certeza que não voltaria àquele corpo. Quando a luz se voltou a acender por entre um precisamos-de-falar, e assim, sem aviso, já não havia nada a dizer. A frase dos romances que dita todos os finais, a palavra-passe que antecede o problema-não-és-tu-sou-eu. E ali, sem querer ouvir mais nada, soube que não voltaria àquele corpo, que não repetiria as horas em que o sexo se misturava com o riso, as horas que lhe faziam ter a certeza que encontrará uma âncora, um ponto de chegada que era também um ponto de partida. Porque aquele era o princípio de todas as viagens, de todas as descobertas, como se fosse possível voltar a ter quinze anos e fazer tudo pela primeira vez. E ansiar ainda mais pelo que nunca foi feito, pelo que nem sequer se sabia que podia existir, multiplicando as possibilidades dos bilhetes de avião que ainda haviam de ser comprados, dos quilómetros que ainda teriam que ser queimados, das pessoas que havia para conhecer, das fotografias que estavam à espera de ser tiradas, os livros, os filmes, as músicas que ainda nem tinham sido escritas mas que teriam outro sentido se partilhados pela primeira vez. Aquela era a relação das primeiras vezes, do quebrar barreiras no que não podia sequer se enunciado, porque haverá sempre coisas que não se dizem. Fazem-se. Só que aquela história acabava ali. Naquela noite aprendeu que as lágrimas tinham cheiro, que não voltaria àquele corpo.
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