Dia estranho este. Apanhada logo pela manhã no embalo de um cacilheiro*, dos novos porque os velhos, que nos traziam a brisa e a cor de Lisboa deixaram órfão o Tejo. Apanhada nas angústias de Maria Rosa que tem no coração uma cicatriz, talvez de um desgosto de amor, que promete nunca mais se apaixonar para que o coração não volte a desfazeres-se em mil pedaços. Eu no embalo daquele cacilheiro de 'partalós hidráulicos fechados,' na segurança do ar condicionado, transformado em 27 que agora me leva pelas ruas da cidade, eu a deixar passar a paragem, imersa naquelas vidas e naquela viagem entre as duas margens do rio. As angústias, agora as minhas, reais, sentidas, a quererem sair por todos os poros, que as tristezas não sobrevivem a temperaturas superiores a 25 graus, e elas a voltar em formas de bits e bytes. Eu a querer erguer barreiras, muros, travada pelo medo das decisões irreversíveis. Eu à procura de uma bolha.
Dia estranho este, com direito a uma passagem por Istambul** [e lá poderia ser outra cidade?], que acabou numa varanda sobre a cidade. Apanhada pelo choro, pelos abraços e gargalhadas com sabor a lágrimas. Sempre as gargalhadas. E a certeza de um amor maior.
*Espelho da Água, Rui Cardoso Martins, Granta
** Gente Famosa, Orhan Pamuk, Granta
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