25 de janeiro de 2013

um cigarro e um poema


[sophie curtis]

um cigarro arde no canto da sala num verso de Al Berto, e aquele cigarro são todos os cigarros que me apeteceram nos últimos anos. a brasa que brilha no cigarro acabado de acender, a única luz numa uma noite de verão sem lua, o fumo puxado lentamente ao ritmo das férias, do contentamento dos dias de praia e das noites de copos e de conversa numa varanda com cheiro a mar. o cheiro que enche o ar num fim de tarde à porta da junta e que se mistura com o stress de dias de telefonemas, histórias e milhares de caracteres, a pausa que nunca era pausa, apenas o momento de levantar o rabo da cadeira e levar o trabalho lá para fora. o isqueiro aceso antes que o sinal caia para verde, o filtro nos lábios e o ar puxado para os pulmões enquanto nas colunas canta Berninger, Tom Smith,Feist ou uma das Marias e o mundo parece um lugar melhor e eu ali estou pacificada.A chuva a cair impiedosa do lado de fora da janela, enquanto do lado de dentro há o fumo que enche os pulmões, que se esvaziam ao ritmo do dissipar de angústias.há um cigarro num verso de Al Berto e aquele cigarro são todos os cigarros que não fumei em dois anos.

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