9 de novembro de 2011

hoje não iv

[fotograma The Reader]

pega no telefone e liga para o escritório, diz-lhes que não vou, conta-lhes que preciso de todos os minutos do dia, que 24 horas não chegam, diz-lhes que preciso de matar as saudades antes que elas se atrevam a aparecer. enquanto ligas, encho a banheira, deito os sais verdes que deixam a casa a cheirar a spa, vou entrar devagarinho porque a água vai estar muito quente. Hoje não, diz-lhes que sofri de um ataque de melancolia antecipada, que o coração pode parar a qualquer momento e que precisa de repouso, quando desligares vem para a banheira. hoje não, a memória precisa de ser treinada, para que não se esqueça de nenhum dos pontos da geografia humana, quero tocar em cada centímetro de pele, para que os dedos se lembrem nos dias de abstinência, diz-lhes que precisamos de fazer amor, que precisamos de foder, para que os sentidos se alimentem para as noites que ai vêm. Liga para o escritório e diz que preciso de me encher de afectos, de mimo e gargalhadas, porque o inverno será longo e mais frio do que o costume. Hoje não. Pega no telefone e liga para o escritório…

3 comentários:

Cat disse...

Gosto tanto do que escreves. Tanto.

Laura Ferreira disse...

Também eu.

Sal disse...

Obrigada, tonterias de quem tem tempo entre os dedos
:)*