Pega no telefone e liga para o escritório, diz-lhes que não vou, conta-lhes como me vesti de negro por mim. Enquanto ligas eu despacho o banho, visto qualquer coisa ligeira, calço as havaianas pretas para não destoarem do luto e desço à cidade. Hoje não, diz-lhes que estou de luto porque morri em ti e isso continua a doer-me, diz-lhe que o médico que receitou sol e rostos felizes, eu entretanto já sai, máquina fotográfica a tiracolo, já vou a caminho da cidade ainda a meio gás. Vou fotografar as ruas, as pessoas, vou fazer exercícios de luz, aberturas de diafragma, vou fotografar o rio e os corpos que se espreguiçam ao sol da manhã, vou embrenhar-me nas vielas, fotografar os miradouros, encher a lente de crianças, de mulheres gastas pela vida, vou fotografar os casais de namorados, os yuppies no seu passo apressado, os miúdos de skate, as miúdas que ensaiam as primeiras pinturas, vou fixar a vida como ela é para me lembrar que nem sempre é a preto e branco. Hoje não. Pega no telefone e liga para o escritório…
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