4 de agosto de 2009

dores de crescimento

Um dia explicaram-me que a raiva que sentia, naquele dia específico, e as lágrimas que me caiam pelo rosto numa dor imensa, por perceber que não há actos inconsequentes e que me tornara responsável, tinham um nome. Chamaram-lhe crescer. Lembrei-me desta conversa hoje quando, já noite, cheguei à rua e vi uma lua imensa, redonda, plena, sobre o céu da cidade. Se tivesse ligado ao L., se hoje lhe pedisse um ombro, ele ter-me-ia explicado que a culpa, se ela existisse, para o peso que trazia no peito, é da lua. Nunca somos responsáveis pelo que fazemos nas noites de lua cheia. Não liguei porque a resposta estava na tal conversa. O peso no peito é proporcional à certeza de que algo tem que mudar para que tudo fique na mesma. Quantas vezes tive já esta mesma certeza? Que hoje, como naquele dia, continuam a não existir actos sem consequências e que cada gesto que faço terá amanhã um peso desmesurado. E as mesmas certezas voltam a pesar e volto a ter dores de crescimento como a D. lhe chamou naquele dia. Abro a janela, acendo um cigarro, aumento o volume do rádio e decido que não quero crescer mais este ano.

1 comentário:

Margarida disse...

Muito bonito. Talvez chamar "dores de crescimento" a essas dores dê outro alento à vida.

(Mas depois... crescer para quê? e a que custo?)