5 de março de 2008

escrita

Não gosto da Fernanda Câncio. Nunca a vi mais gorda, na verdade, nem mais magra. Mas não gosto dela. Talvez seja apenas um dos mais primários instintos humanos, a inveja. Pela forma como escreve, ainda que não partilhe da maior parte das suas opiniões. Também é verdade que, mesmo não gostando dela, leio, quase religiosamente, o que ela vai escrevendo todas as semanas na revista do Diário de Notícias. Há umas semanas escrevia ela sobre o acto da escrita. Não foi artigo que levasse até ao fim, o cigarro acabou entretanto, chegou alguém, alguma coisa que me prendeu a atenção de tal maneira que a Câncio, ou o artigo dela, ficaram a meio. Lembro-me vagamente de que falava do pânico da página em branco, o ecrã vazio na versão moderna do pesadelo dos escritores. E dizia que o único remédio era não desistir. Não tenho pretensões a escritora. Longe de mim. Mas tenho especial prazer em juntar letras, formando palavras, frases, parágrafos inteiros que dizem qualquer coisa. O problema é que esse prazer se transforma aos poucos em dor. O sofrimento de não conseguir dizer nada de interessante, de significativo. O que sei agora é que a maior parte das vezes nem tento. Olho para o ecrã, para a folha em branco, e baixo os braços. A saída mais fácil. Hoje, a caminho de casa lembrei-me das palavras da Câncio. E agora estou para aqui a matutar que tenho que me esforçar mais.

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