2 de dezembro de 2007

crime

Ela está parada à tua frente. Procura-te os olhos. Procura-te as mãos. Quer dizer-te tudo, há tanto para dizer, explicar porque parte agora, porque o problema é dela, está dentro dela. É genético. Nunca será feliz se ficar, sabe que tão cedo não será feliz se partir. Não a ouves, não queres argumentos, acreditas que não há nada para dizer, só a tua verdade interessa. Não dizes nada, não a mandas embora, mas não a paras quando se levanta. Procura o batom, quer adiar a partida nem que seja por uns minutos, revira a mala para ver se tem mais um lenço de papel, limpa as lágrimas, volta a olhar-te. Quer falar, tem que falar. A certeza na decisão que tomou perde-se na proporção exacta das palavras que te quer dizer. Sente-se uma criminosa, mas sabe que o único crime que cometeu foi deixar de te amar. E mesmo que nem esse possa dizer, em consciência, que cometeu, esse é também o único crime que nunca lhe perdoaras.

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