3 de outubro de 2013

Ainda a Rosário

Ainda bem 
que não morri de todas as vezes que
quis morrer - que não saltei da ponte, 
nem enchi os pulsos de sangue, nem
me deitei à linha, lá longe. Ainda bem

que não atei a corda à viga do tecto, nem 
comprei na farmácia, com receita fingida,
uma dose de somo eterno. Ainda bem

que tive medo: das facas, das alturas, mas 
sobretudo de não morrer completamente
e ficar por aí - ainda mais perdida do que 
antes - a olhar sem ver. Ainda bem 

que o tecto foi sempre demasiado alto e 
eu ridiculamente pequena para a morte.

Se tivesse morrido de uma dessas vezes, 
não ouviria agora a tua voz a chamar-me,
enquanto escrevo este poema, que pode 
não parecer - mas é - um poema de amor. 

Maria do Rosário Pedreira

[preciso urgentemente de um novo livro de poesia] 

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