1 de outubro de 2013

A vida começa ou acaba aos 40?

[or none of the above...]

[juliette binoche, nascida em 1964]


Andamos a comer décadas, pelo menos na nossa cabeça. Os 30 são os novos 20 e os 40 os novos 30. Ou então sou apenas eu quem precisa desesperadamente de se convencer disso.

Aos 10, nos meus 10, pelo menos, olhávamos para alguém com 40 como pertencendo à meia idade. Hoje, ainda sem lá ter chegado, aos 40, sinto-me tão distante da meia idade como da lua.

Há casos e casos. Na junta tenho colegas de quem diria terem 50, até descobrir em conversa que têm a mesma idade que eu ou são, pasme-se, mais novas. Falo principalmente das mulheres, porque me parece que é aí que a diferença é mais visível. Casamos, temos filhos e num determinado escalão social, temos tendência a acomodarmo-nos, temos menos cuidado com a roupa, com o cabelo, com a aparência em geral. Ou então interiorizamos que mudar o estado civil nos obriga a um certo conservadorismo.

Pensamos que há coisas que deveríamos deixar de fazer com a idade, há roupas que uma mulher casada não usa, que não se vestem depois dos 35. Para não cair no ridículo. Mas olhando para o espelho e não recebendo de volta o reflexo que a idade impunha, quem me impede de vestir uns calções de ganga, uma mini-saia a raiar o cinto? Quem me impede de dançar até de manhã na mais chunga discoteca do Cais Sodré? O que me impede de me sentar em posição de lótus na relva de um jardim, invés de optar por um banco, com as pernas decentemente cruzadas?

Um conservadorismo de que parecemos ficar libertas na exacta medida em que não temos  responsabilidades com os filhos e a família.

As generalizações são perigosas. Há mães de família mais cools do que eu alguma vez serei - vide Cláudia Vieira, por exemplo -, mas para isso é preciso o tempo e a energia que só um determinado poder de compra conferem. Há uns tempos apanhei um artigo em que se falava na forma como o QI era influenciado pela nossa capacidade financeira, que a capacidade para nos mantermos informados, para procurar alternativas e sermos bem sucedidos é proporcional ao dinheiro que temos na conta bancária. Ser pobre equivalia a perder 10 pontos do QI. Sem dinheiro, a nossa cabeça está ocupada em sobreviver dia após dia o que não deixa espaço para procurar alternativas. Olhando em volta, parece-me que o exemplo se aplica também à imagem que transmitimos, aquilo que somos aos 30, aos 40 ou aos 50 anos.

A ideia era escrever sobre alternativas de vida, sobre se aos 40 teremos ou não a mesma disponibilidade mental para dar uma volta de 180 graus à nossa vida, arriscar mudar tudo, de casa, de emprego, de país, de hemisfério. Saiu isto. Mas a conclusão acabaria, como aqui, por ir bater à estafada ideia de que a idade é um estado de espírito e o meu não tem mais de 20 anos.

3 comentários:

T disse...

Nota 10 para os calções de ganga, masi 5 pontos adicionais para a Cláudia Vieira.

Sal disse...

Tanto carácter e só vos ocorre comentar os calções? :)

Isa disse...

eu aos 38 mudei-me pra sao paulo, e aos 42 volto a mudar-me pra Lisboa. sim, é possível e desejável uma mudança grande aos 40 anos...