© Murray Mitchell
gostamos de dias de sol e do céu azul metalizado que se vê pela janela, mas não gostamos das paredes em volta nem do barulho constante da junta, da urgência das vozes, do tom de fim de mundo. agora era a hora em que pegávamos no casaco, na carteira, e de óculos de sol já postos, descíamos as escadas e não voltávamos enquanto não enchêssemos a alma de sol e cheiro a mar. isso e um livro. há tantos na ‘to read list’, empilhados por tamanhos na estante, uma prateleira diferente onde estão todos os outros que já foram folheados, alguns com pequenas marcas de café, riscos do verniz cor de desejo, as capas ligeiramente gastas de andarem aos tombos dentro da mala, sempre prontos a saltar cá para fora, na paragem do autocarro, no metro, em quaisquer cinco minutos de espera, para que o tempo se encolha e se encha de outras vidas. o mar, um livro e um chá quente e muitas horas para não pensar em nada, fazer fotossíntese num dia de sol e céu azul metalizado. e depois uma mesa de café de mármore, uma cadeira vintage, uma penumbra de muitos anos e mais páginas do mesmo ou de outro livro. queremos dias de sol e céu azul metalizado sem horas, sem tempo. isso ou o verão.
1 comentário:
Sem tempo, mas o frio faz sonhar a alma. assim me sabe.
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