28 de agosto de 2010

[isto não é um diário]

Deve ter feito muito barulho, mais do que o metal do eléctrico a bater nos carris lá em baixo, deve ter feito um som ensurdecedor que ela não ouviu, porque no mesmo instante puxou da bolha actimel, fechou os olhos e os ouvidos, ficou muito quieta para não pisar os cacos. Terá feito um barulho ensurdecedor quando se estilhaçou em mil pedaços e se espalhou pelo quarto. Quando o choque passou, quando o barulho da rua voltou a entrar pela janela, quando os olhos se abriram para ver os estragos, quando o sangue voltou a correr-lhe nas veias, olhou em volta, afastou uns quantos cacos, abriu espaço no chão, pernas traçadas, pegou num pedaço, depois noutro, juntou um terceiro, um quarto... não sabe quando voltará à forma original, mas tem todo o tempo no mundo e da última vez que olhei ainda lá estava, sentada no chão, atordoada, as pernas nuas em contacto com o piso frio, a colar pedaço a pedaço.

2 comentários:

Poetic Girl disse...

Estava a concertar seu coração? pedaço a pedaço, faço isso ao meu, remendo-o! bjs

B. disse...

O problema é que, há possibilidade, de os pedaços todos juntos não voltarem a formar a mesma coisa.

Às vezes quando quebra já não dá para voltar a consertar, de modo a voltar a ser o que era!

Gostei muito das palavras.

B.