23 de junho de 2010

chumbo a matemática

[Istvan Labady]


ninguém gosta de pessoas tristes, diz ele enquanto se inclina sobre a mesa para apanhar o isqueiro e encolhe os ombros com ar de quem olha para um caso perdido. se é para me queixar, que me queixe ali entre as quatro paredes cinzentas, com o barulho do bater de pratos que sobe do rés-do-chão até ao quinto andar. mas o melhor é que esqueça as tristezas, reais ou imaginadas, que não me queixe de todo. ninguém gosta de pessoas tristes, de pessoas que não estão de bem com a vida, porque ninguém quer realmente saber o que se passa na casa ao lado. sucesso capitaliza sucesso, felicidade atrai felicidade... é uma conta de somar, sempre com resultados positivos. olho-o, digo que sim, que tem toda a razão, que não volto a queixar-me ou a dizer mal da vida, mas no fundo sei que nunca fui boa a matemática, que serei sempre uma mulher de letras.

6 comentários:

Roberta Ávila disse...

Adorei esse texto. Ser de letras nem sempre é fácil, mas acho que talvez não saber usá-las seja ainda pior.

Eva disse...

Os números são o melhor refúgio. A lógica é a melhor rede, a mais segura. As letras falam, reflectem o que os números não conseguem alcançar, trabalham sem rede e rompem, felizmente, todas as fronteiras da razão.

Anónimo disse...

Como é bom ser irracional, ninguém consegue me encontrar, eu nunca estou aqui, eu sempre estou por aí.
"Transcrito do 'Diário de um Número Irracional'"

Ana disse...

e tudo isto hoje faz tanto sentido (bonitas estas letras todas juntas)

Cat disse...

Curioso, no outro dia disseram-me o mesmo.
Mas veio de alguém que mesmo percebendo muito mais de matemática que eu, percebe muito menos de sentimentos, porque nunca teve coragem para os sentir.
Mil vezes ser uma mulher de letras.

Lalalage disse...

Recomendo esta curta-metragem produzida por chuck jones: "The Dot and the Line: A Romance in Lower Mathematics"
Dez minutos muito bem passados :)
http://www.youtube.com/watch?v=OmSbdvzbOzY