Ali estamos os dois a falar de viagens, Índia, Roma, Berlim, Nova Iorque, Praga, os destinos que cumprimos e os que nos faltam cumprir, passamos ao trabalho e às responsabilidades e às saudades do tempo de meninos. Ser grande é uma seca e não há outra maneira de pôr a questão. Voltamos atrás muito tempo e dizes que não mudaste desde os tempos da escola, que só o discurso se refinou, talvez tenhamos aprendido qualquer coisa nos bancos da faculdade, não mudamos, mas agora já não há o canto, nem a relva onde curávamos bebedeiras e fumávamos ganzas, como não existem as tascas no final da rua, agora há salas de reunião, gente engravatada e com um sério. Estamos nesta conversa e percebo que pela primeira vez encontro alguém que pensa o mesmo que eu, não sei porque me admiro, uma frase destas só poderia vir de um de nós. Somos uma fraude, cada um à sua maneira, rimos muito, recriamos a cara séria dos nossos interlocutores, de quem nos ouve como se de facto percebêssemos alguma coisa do que dizemos, e perguntamo-nos durante quanto tempo conseguiremos continuar a enganá-los. Mas não somos só nós, talvez sejamos apenas os únicos a ter consciência, os outros limitam-se a ser uma fraude sem o saberem, continuando inchados na sua existência oca, rimos da forma como quem nos rodeia se vê a si próprio, como olha o mundo, as suas vidinhas tristes, como se acham importantes e agem como se tudo o que fazem fosse essencial para a salvação da humanidade, como se fossem encontrar a cura para a sida ou guardassem o segredo para paz do mundo, como não percebem que tudo é tão inútil e fútil e vão e frívolo. Talvez por isso não percebam que nós somos uma fraude. É aproveitar enquanto dura, qualquer dia somos desmascarados a meio de uma reunião, de uma conversa, de uma apresentação. Aí levantamo-nos, agradecemos e saímos a dar gargalhadas. Até lá… keep on fooling them
Sem comentários:
Enviar um comentário