17 de março de 2008

Ruindade

Sou a única pessoa do departamento que ainda não ficou doente este ano. Nem uma gripe, um enjoo, febre, nada de nada, as dores de cabeça aguentam-se, melhor ou pior, os dedos que pressionam os olhos, as têmporas, a base do pescoço, à vez. A única vez que fiquei em casa, ao fim de mais de uma década de trabalho, foi há três anos. Uma infecção respiratória, nada que não se curasse com uma receita aviada na farmácia, mas merecia aqueles dois dias, enrolada numa manta, pote de chá atrás de pote de chá, muitos livros e ronha, muita ronha, o cansaço de um período difícil purgado no sofá, sozinha em casa, como sempre gostei de estar. Não me queixo, ninguém no seu perfeito juízo, eu sei que me resta pouco, mas ainda assim, gosta de ficar doente, logo eu que aos 37,5º, febre altíssima para quem tem temperatura de réptil e ronda sempre os 35,5º, com sorte os 36º, já acho que vou morrer, que nunca ninguém esteve tão doente, que desta não me safo. Não me queixo, mas interrogo-me, logo eu de postura franzina, a alimentar-me mal durante a semana inteira, falta de tempo, falta de paciência para a cozinha, a achar que comer é uma perda de tempo, para depois me empanturrar ao fim-de-semana, logo eu que durmo muito menos do que devia, que nunca descanso o suficiente, que trabalho 12 horas por dia, logo eu hei-de não ficar doente. Há quem diga que é da ruindade. Eu acredito.

2 comentários:

Anónimo disse...

Eu acho que as doenças gostam de gosdurinhas anafadas onde possam encostar a cabeça para descansar...

Cátia Simões disse...

O meu pai diz que nunca fica doente porque não tem tempo para isso...